A arena do Campo Pequeno preparou-se para receber mais uma edição do Mercado de Natal. Este ano, foram cento e trinta os artesãos que se juntaram para mostrar ao público português – e não só – o que sabem fazer.
Filipe Frazão, da organização do Mercado, confessa que a parte mais difícil todos os anos “é ter de recusar candidaturas”. Só este ano recebeu mais de 1600 pedidos para participar naquele que é considerado, para alguns expositores, “uma rampa de lançamento para os seus projectos”.
Carlos Silva, um dos responsáveis da marca Planeta Zorg, foi um dos que recebeu o ‘sim’ por parte da organização para mostrar o trabalho que faz já há 3 anos. Combina materiais reciclados como a madeira e o plástico para produzir candeeiros ou outros objectos de iluminação.Os Zorguinos nasceram pelo medo que o sobrinho de Carlos tinha do escuro. Estes habitantes do Planeta Zorg são frascos com tampas personalizadas e que brilham no escuro. Todos os objectos criados tiveram por base os espectáculos de marionetas feitos pelos responsáveis da marca.
Para Filipe a “grande” diferença do Mercado é “conseguir trazer o melhor de norte a sul do país”. A by Stro trouxe os seus produtos da Serra da Estrela para Lisboa. Ao usarem a lã de cordeiro como matéria-prima fazem mantas, cachecóis, chinelos e boinas – o grande sucesso da marca.Cláudia Mateus e Pedro Tavares são sócios e estão à frente da by Stro. Começaram pelo fabrico de chinelos de retalho que, na opinião de Cláudia “já estavam esquecidos” mas depressa inovaram nos produtos a comercializar.
As expectativas da organização do Mercado “são sempre altas”, diz Filipe, que espera cerca de 25 mil visitantes. Igualmente elevadas estão as expectativas de Daniel Mendes, autor do projecto Um/Um. O designer afirma que o negócio “tem vindo a crescer como eu gosto” e que o começou porque “queria oferecer prendas diferentes”.
O jovem dedica-se por inteiro à produção de cadernos cozidos à mão e utiliza materiais como algodão, papel texturado e metálico. No entanto, o Um/Um “procura diferenciar-se de outras marcas” e para isso faz peças únicas.
Os preços variam entre os 3€ e os 90€, no caso dos cadernos com a capa em pele. Daniel vê o seu pequeno negócio “como um comboio”, “quanto mais lenha colocarmos mais conseguimos andar”.A utilização da máquina de costura para coser as capas dos cadernos faz com que este projecto entre no critério que Filipe enuncia como “preservar saberes antigos”. O lado contemporâneo também tem de estar presente e a Bomerango consegue fazer isso com os seus candeeiros, bijutaria em filigrana e brinquedos.
A empresa de Ponte de Lima trabalha com máquinas de impressão a 3D e cria, especialmente, “objectos com utilidade”. Quem o diz é António Vieira, responsável pelo projecto e que se despediu há dois anos do trabalho onde estava para se dedicar “a fazer coisas funcionais”.Filipe Frazão admite que com a crise, as pessoas sentiram necessidade “de procurar outras formas de rentabilizar” a sua vida. Acrescenta que de há 4 anos para cá houve mesmo “uma explosão” de pequenos empreendedores.
O organizador alertou para o facto de ser preciso “desmistificar o pensamento português” de que só os produtos feitos fora do nosso país “é que são bons”.
No entanto, a Bomerango iniciou o processo de internacionalização e exporta agora “para o Médio Oriente, Europa e América do Norte” e assegura que o negócio tem de estar constantemente ligado à inovação “porque Portugal é pequeno”.
O Mercado integra várias áreas como crafts, artesanato, brinquedos de madeira, bijutaria, olaria, pintura, decoração e reciclagem. E é da reciclagem que nasceu Portugal Enlatado by Hobby ir.
Isabel Ribeiro comanda o projecto há oito anos e há quatro criou o Portugal Enlatado para fazer obras de arte que divulgam a identidade lusitana. A portuense utiliza frequentemente dois símbolos bem portugueses como o Galo de Barcelos e o Santo António mas para o Mercado trouxe também presépios para festejar a época natalícia.
Estes objectos são feitos com cortiça, bolotas e latas de conserva e ao princípio “não eram bem aceites”. O sucesso desta artesã de Matosinhos, garante, depende “da minha persistência”.A escolha dos artesãos é, na opinião de Filipe “como cozinhar”, diz entre risos, e como ingredientes acrescenta-lhe “a originalidade, qualidade, graça e diferença do projecto”.
O Mercado de Natal do Campo Pequeno decorreu de 4 a 8 de Dezembro e destacou-se por ter exclusivamente produtos portugueses ou que tiveram uma manufacturação final feita cá. A regra, conta Filipe, é “não haver importações” para que consigam garantir que tudo o que se encontra à venda “seja português”.
Os portugueses já estão “a mudar a atitude” perante os fenómenos dos Mercados e já consegue “valorizar mais o que se faz aqui”.
O Campo Pequeno faz também o Mercado Gourmet e o de Vinhos para que seja possível “olhar para os produtores mais pequenos”.
Ana Catarina Antão, Marta Mendes e Patrícia Franco

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