Monday, January 12, 2015

Um Mercado 100% português


A arena do Campo Pequeno preparou-se para receber mais uma edição do Mercado de Natal. Este ano, foram cento e trinta os artesãos que se juntaram para mostrar ao público português – e não só – o que sabem fazer.

Filipe Frazão, da organização do Mercado, confessa que a parte mais difícil todos os anos “é ter de recusar candidaturas”. Só este ano recebeu mais de 1600 pedidos para participar naquele que é considerado, para alguns expositores, “uma rampa de lançamento para os seus projectos”.


Carlos Silva, um dos responsáveis da marca Planeta Zorg, foi um dos que recebeu o ‘sim’ por parte da organização para mostrar o trabalho que faz já há 3 anos. Combina materiais reciclados como a madeira e o plástico para produzir candeeiros ou outros objectos de iluminação.

Os Zorguinos nasceram pelo medo que o sobrinho de Carlos tinha do escuro. Estes habitantes do Planeta Zorg são frascos com tampas personalizadas e que brilham no escuro. Todos os objectos criados tiveram por base os espectáculos de marionetas feitos pelos responsáveis da marca.

Para Filipe a “grande” diferença do Mercado é “conseguir trazer o melhor de norte a sul do país”. A by Stro trouxe os seus produtos da Serra da Estrela para Lisboa. Ao usarem a lã de cordeiro como matéria-prima fazem mantas, cachecóis, chinelos e boinas – o grande sucesso da marca.

Cláudia Mateus e Pedro Tavares são sócios e estão à frente da by Stro. Começaram pelo fabrico de chinelos de retalho que, na opinião de Cláudia “já estavam esquecidos” mas depressa inovaram nos produtos a comercializar.

As expectativas da organização do Mercado “são sempre altas”, diz Filipe, que espera cerca de 25 mil visitantes. Igualmente elevadas estão as expectativas de Daniel Mendes, autor do projecto Um/Um. O designer afirma que o negócio “tem vindo a crescer como eu gosto” e que o começou porque “queria oferecer prendas diferentes”.

O jovem dedica-se por inteiro à produção de cadernos cozidos à mão e utiliza materiais como algodão, papel texturado e metálico. No entanto, o Um/Um “procura diferenciar-se de outras marcas” e para isso faz peças únicas.

Os preços variam entre os 3€ e os 90€, no caso dos cadernos com a capa em pele. Daniel vê o seu pequeno negócio “como um comboio”, “quanto mais lenha colocarmos mais conseguimos andar”.

A utilização da máquina de costura para coser as capas dos cadernos faz com que este projecto entre no critério que Filipe enuncia como “preservar saberes antigos”. O lado contemporâneo também tem de estar presente e a Bomerango consegue fazer isso com os seus candeeiros, bijutaria em filigrana e brinquedos.

A empresa de Ponte de Lima trabalha com máquinas de impressão a 3D e cria, especialmente, “objectos com utilidade”. Quem o diz é António Vieira, responsável pelo projecto e que se despediu há dois anos do trabalho onde estava para se dedicar “a fazer coisas funcionais”.

Filipe Frazão admite que com a crise, as pessoas sentiram necessidade “de procurar outras formas de rentabilizar” a sua vida. Acrescenta que de há 4 anos para cá houve mesmo “uma explosão” de pequenos empreendedores.

O organizador alertou para o facto de ser preciso “desmistificar o pensamento português” de que só os produtos feitos fora do nosso país “é que são bons”.

No entanto, a Bomerango iniciou o processo de internacionalização e exporta agora “para o Médio Oriente, Europa e América do Norte” e assegura que o negócio tem de estar constantemente ligado à inovação “porque Portugal é pequeno”.

O Mercado integra várias áreas como crafts, artesanato, brinquedos de madeira, bijutaria, olaria, pintura, decoração e reciclagem. E é da reciclagem que nasceu Portugal Enlatado by Hobby ir.



Isabel Ribeiro comanda o projecto há oito anos e há quatro criou o Portugal Enlatado para fazer obras de arte que divulgam a identidade lusitana. A portuense utiliza frequentemente dois símbolos bem portugueses como o Galo de Barcelos e o Santo António mas para o Mercado trouxe também presépios para festejar a época natalícia.

Estes objectos são feitos com cortiça, bolotas e latas de conserva e ao princípio “não eram bem aceites”. O sucesso desta artesã de Matosinhos, garante, depende “da minha persistência”.

A escolha dos artesãos é, na opinião de Filipe “como cozinhar”, diz entre risos, e como ingredientes acrescenta-lhe “a originalidade, qualidade, graça e diferença do projecto”.

O Mercado de Natal do Campo Pequeno decorreu de 4 a 8 de Dezembro e destacou-se por ter exclusivamente produtos portugueses ou que tiveram uma manufacturação final feita cá. A regra, conta Filipe, é “não haver importações” para que consigam garantir que tudo o que se encontra à venda “seja português”.

Os portugueses já estão “a mudar a atitude” perante os fenómenos dos Mercados e já consegue “valorizar mais o que se faz aqui”.

O Campo Pequeno faz também o Mercado Gourmet e o de Vinhos para que seja possível “olhar para os produtores mais pequenos”.

Ana Catarina Antão, Marta Mendes e Patrícia Franco

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